"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Retrato de família na Argentina

Estado mayor de bufones, Orozco

O poeta argentino Leopoldo Lugones proclamou:

- Já soou, para o bem do mundo, a hora da espada!

E assim aplaudiu, em 1930, o golpe de Estado que instalou uma ditadura militar.

A serviço dessa ditadura, o filho do poeta, o delegado Polo Lugones, inventou a máquina de dar choques - a picana - e outros convincentes instrumentos que ensaiava nos corpos dos desobedientes.

Quarenta e tantos anos depois, uma desobediente chamada Piri Lugones, neta do poeta, filha do delegado, sofreu na própria carne os inventos do papai, nas câmaras de tortura de outra ditadura.

Essa ditadura fez desaparecer trinta mil argentinos.

Entre eles, ela.

GALEANO, Eduardo. Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre: L&PM, 2015. p. 316-7.

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