"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

O corpo na Grécia antiga

Tumba do mergulhador, Paestum, c. 470 a.C.  Artista desconhecido. 
Foto: Dave & Margie Hill / Kleerup

"A Grécia civilizada fez do seu corpo exposto um objeto de admiração. Para o antigo habitante de Atenas, o ato de exibir-se confirmava a sua dignidade de cidadão. A democracia ateniense dava à liberdade de pensamento a mesma ênfase atribuída à nudez. O desnudamento coletivo a que se impunham - algo que hoje poderíamos chamar de 'compromisso másculo' - reforçava os laços de cidadania." SENNET, Richard. Carne e pedra: o corpo e a cidade na civilização ocidental. Rio de Janeiro: Record, 1997. p. 30.

O corpo humano era um dos temas de predileção da arte grega. O corpo masculino era geralmente representado nu. Já o corpo feminino, que conheceu algumas figurações nuas de influência oriental (como os marfins do século VIII a.C.), só foi retratado nu no século IV a.C. e na época helenística. Antes disso, já tinha sido representado com sugestivas vestes molhadas (como Calímaco, monumento das Nereidas) ou semiencoberta.

O nu, geralmente um corpo jovem, apareceu na época arcaica e no começo da época clássica. Durante a época clássica, nota-se uma tendência ao rejuvenescimento de alguns deuses (Apolo, Dioniso, Hermes) e a tendência a uma sutileza nas formas, certa androginia nas estátuas de hermafroditas. Inversamente, os nus femininos representados nos vasos tinham, no século V a.C., uma morfologia principalmente masculina, talvez pelo desconhecimento do corpo feminino, que não se mostrava em público, ao contrário do masculino.

A pintura de vasos também era uma fonte importante para a representação do corpo. Alguns dos vasos usados nos banquetes eram decorados com cenas de relações sexuais diversas, que podiam ser divididas em dois grupos: cenas elegantes, com trocas de olhares, e cenas cruas, nas quais se expressava uma relação de dominação entre um homem pertencente ao mundo dos senhores e um ser de estatuto servil, apresentado como simples objeto funcional. (Anne Jacquemin, professora da Universidade Marc Bloch, Estrasburgo)

In: BETING, Graziella. Coleção história de A a Z: [volume] 1: antiguidade. Rio de Janeiro: Duetto, 2009. p. 17-19.

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