"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 22 de março de 2016

A Confederação do Equador

Estudo para Frei Caneca, Antônio Parreiras

"As constituições, as leis e todas as instituições humanas são feitas para os povos e não os povos para elas".
(Trecho do manifesto dos revolucionários da Confederação do Equador)

O autoritarismo de d. Pedro produziu fortes reações entre os grupos descontentes identificados com os liberais. Foi na província de Pernambuco que se manifestou mais radicalmente a oposição à centralização do governo imperial. Os liberais pernambucanos eram favoráveis a uma República federativa, e para eles a Constituição de 1824 representou um retrocesso político. Nos jornais tiveram destaque como expressão desse descontentamento artigos de Cipriano Barata e frei Caneca, dois grandes ideólogos liberais. Cipriano era conhecido por sua intensa atividade política desde a época da Conjuração Baiana, no final do século XVIII. Seu jornal tinha um nome curioso: Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco. Frei Joaquim do Amor Divino Caneca era carmelita, de sólida formação intelectual, e dirigia outro jornal, o Tifis Pernambucano.

"A situação do Nordeste era particularmente crítica. A economia açucareira estava em franca decadência, pois não conseguia concorrer com a produção europeia de açúcar de beterraba. A crise econômica acentuou as tensões políticas". (PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza; CARVALHO, Yone de. História do mundo ocidental. São Paulo: FTD, 2005. p. 291)

Para tentar conter esse clima de rebeldia, D. Pedro nomeou Francisco Pais Barreto o novo presidente da província de Pernambuco, substituindo Manuel Paes de Andrade que fora eleito pelo povo e defendia maior autonomia regional. A nomeação de Pais Barreto não foi aceita pelas comarcas de Olinda e Recife, mas o imperador manteve sua decisão. Criou-se o pretexto para um rompimento com o governo central. Com o apoio das forças militares, Paes de Andrade, que já havia participado do movimento pernambucano de 1817, proclamou, em 2 de julho de 1824, a Confederação do Equador.

Os rebeldes pernambucanos procuraram apoio de outras províncias e conseguiram a adesão quase imediata da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará. Juntas formaram a Confederação do Equador, tendo como modelo a Constituição da Colômbia. A intenção era criar um governo republicano e federativo, em que o poder Legislativo fosse soberano. Alguns propunham o fim da escravidão, o que afastou do movimento muitos proprietários rurais que não queriam abrir mão dos seus escravos. Foram principalmente as brigadas populares que contribuíram para radicalizar a luta contra o governo, ameaçando os grandes proprietários.

Execução de frei Caneca, Murillo La Greca

"O crescente aumento de indivíduos negros e mulatos no movimento atemorizou a aristocracia liberal. Isso provocou divisão no meio do movimento, o que facilitou a ação repressiva e a consequente derrota dos revolucionários. [...]

A repressão imperial foi implacável. Muitos líderes foram executados, inclusive frei Caneca. O imperador, por razões políticas, e os ingleses, por interesses econômicos, não admitiam a fragmentação política do Brasil." (PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza; CARVALHO, Yone de. História do mundo ocidental. São Paulo: FTD, 2005. p. 291)

Referências:

PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza; CARVALHO, Yone de. História do mundo ocidental. São Paulo: FTD, 2005. p. 291
REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005. p. 371-2.

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