"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

domingo, 5 de abril de 2015

A questão indígena na América 3: Política de deportação no México

E eu vejo que o Reino em breve será destruído
Terá fim do México a soberania!
Eis que me afasto e choro
por ter decretado a este país
ser subjugado e totalmente aniquilado.
(Antigo canto fúnebre mexicano)


No século XIX, os governos de diversos países americanos, entre os quais o México, adotaram projetos políticos liberais que, em geral, incluíam a abolição de terras comunais indígenas.

As leis que extinguiam todas as formas coletivas ou corporativas de posse da terra afetaram intensamente as comunidades indígenas. Os vínculos indígenas de alguns líderes do governo, como o presidente do México Benito Juárez (1867-1872), de ascendência zapoteca, não refrearam a promulgação dessas medidas, consideradas, na época, necessárias ao "progresso", pois promoveriam a incorporação dos nativos ao Estado mexicano. Os indígenas, entretanto, não se tornaram pequenos proprietários e se rebelaram contra o governo, que, além de reprimi-los por meio de conflito armado, utilizou, como tática de contenção, a estratégia da deportação em massa.

Tal procedimento foi utilizado com os yaquis, que habitavam o norte do México e acumularam um histórico de revoltas no século XIX.

Após uma tentativa frustrada, na década de 1820, de união com outros povos para conquistar a emancipação de seu território, os yaquis rebelaram-se novamente em 1868. Nesse episódio, 150 indígenas que estavam em uma igreja foram queimados vivos.


Um grupo de cerca de 44 mulheres e crianças yaqui prisioneiros sob guarda, México, 1910. Fotógrafo desconhecido

Após as reformas liberais, os yaquis que viviam no território mexicano iniciaram uma guerra contra o governo em defesa de suas terras, no qual tiveram apoio dos apaches e dos yaquis que haviam emigrado para os Estados Unidos. As tropas federais foram mobilizadas para reprimi-los, mas sofreram seguidas derrotas, até que, em 1896, o governo decidiu empreender a deportação desses indígenas para a península de Yucatán, onde os deportados foram submetidos a trabalho escravo em plantations. Essa solução pôs fim à guerra, mas significou a quase extinção desse grupo indígena.


Um grupo de mais de 30 prisioneiros yaqui escoltados por soldados mexicanos, México, 1910. Fotógrafo desconhecido

Entre 1876 e 1910, o governo de Porfírio Díaz (1830-1915) persistiu na gradual eliminação das terras comunais e na concepção de que era preciso "educar" os indígenas. A situação de miséria e opressão dos camponeses, a maioria de origem indígena, agravou-se. Em reação a essa situação, na virada do século, emergiu um movimento agrário, com grande participação indígena, que foi um dos pilares da Revolução Mexicana desencadeada em 1910.

NAPOLITANO, Marcos; VILLAÇA, Mariana. História para o ensino médio: volume 2. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 214-215.

Nenhum comentário:

Postar um comentário