"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 10 de março de 2015

A lenda de Pigmalião

Dido sentada em um trono olhando para a personificação da África (vestida com pele de elefante). Navio de Enéas ao fundo. Afresco romano do século I d.C. Artista desconhecido

Matan, neto de Ethaal, após um reinado de nove anos, morreu, deixando uma filha já moça, Elisa, e Pigmalião ainda menino. Elisa, que é conhecida na História como Dido, sucedeu ao pai, tornando-se rainha; casou-se com seu tio Sicheus, homem muito rico e poderoso de Tiro, nobre e sumo-sacerdote do deus Melcart.

Quando Pigmalião se tornou maior, deu-se uma revolução em Tiro. Esta, para os historiadores, nada mais foi do que um levante da facção democrática que, destronando Dido e assassinando Sicheus, proclamaria Pigmalião rei knico.

Dido e Enéas. Afresco romano. Artista desconhecido. 
Foto: Stefano Bolognini

Pigmalião desejava apossar-se dos tesouros do cunhado, de cujo assassinato lhe atribuem a responsabilidade. Tal atitude ambiciosa levou Dido a virar-se contra o irmão, embora sem demonstrá-lo.

Temendo ser também assassinada, resolveu ir para outra região onde pudesse viver em paz com os tesouros de Sicheus. Arquitetou, então, um plano de fuga.


Enéas apresentando Cupido vestido de Ascânio para Dido, Giovanni Battista Tiepolo

Estando na ocasião na ilha de Tiro, disse ao irmão que pretendia alojar-se em seu palácio, situado na parte continental. Para isso precisava de um navio, a fim de transportá-la juntamente com os tesouros. Pigmalião deu-lhe a embarcação, recomendando aos marinheiros que vigiassem o tesouro para que chegasse intato ao continente, onde se localizava a outra parte de Tiro.

No entanto, Dido havia mandado encher vários sacos de couro com areia, dando-lhes o aspecto de conter o tesouro, ficando estes em evidência para serem vigiados pela tripulação. O verdadeiro tesouro, Dido escondeu-o num lugar secreto, dentro do navio. Quando estavam em alto mar, Dido disse aos marinheiros que pretendia fazer uma oferenda aos deuses lares de seu marido, os manes, e iniciou a cerimônia jogando os sacos de areia no mar. Os marinheiros de Pigmalião não ousaram interferir na cerimônia religiosa.

A morte de Dido, Joseph Stallaert 

Findo o ato, Dido proclamou-se juntamente com a tripulação responsável pelo desaparecimento do tesouro, afirmando que Pigmalião haveria de se vingar em todos, sem distinção. Temerosos, todos resolveram fugir com Dido para a ilha de Chipre, onde embarcaram vários exilados de Tiro e ainda 80 moças consagradas à deusa Astarté. Daí, os ventos levaram o navio para a costa da África, onde Dido e seus companheiros da facção aristocrática fundaram a cidade de Cartago, que contrastava com a democracia de Tiro.

Dido construindo Cartago, William Turner

CARVALHO, Delgado de. Historia Geral 1: Antiguidade. Rio de Janeiro: Record, s.d. p. 86.

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