"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

domingo, 14 de setembro de 2014

Os celtas

Gauleses avistam Roma, Évariste Vital Luminais

Os celtas eram um grupo diversificado de povos da antiga Europa, ligados pela mesma língua, religião e cultura. Guerreiros ferozes e artistas talentosos, foram a primeira e maior civilização da Idade do Ferro. A história celta ocorreu em três estágios. Os primeiros celtas surgiram a partir da cultura dos campos de urnas do norte dos Alpes, no meio do segundo milênio a.C. Entre 1000 e 600 a.C., grupos desses celtas começaram a migrar e levar a cultura dos campos de urnas pela Europa ocidental até o norte da Espanha.


Costume celta, Paolo Boncomagni.
Arquivo Pietra Pensa

- Cultura de Hallstatt. O segundo estágio da cultura celta, batizado com o nome da aldeia de Hallstatt, na Áustria, onde se encontraram muitos túmulos e artefatos, começou por volta de 1200 a.C. Hallstatt foi uma das primeiras culturas da Europa a usar o ferro e se caracterizou pelas fortalezas em morros e pelos funerais elaborados da elite. Entre os anos 700 e 500 a.C., espalhou-se por França, Espanha, Portugal, Alemanha, Países Baixos e o sul da Grã-Bretanha.


Costume celta. Paolo Boncomagni. 
Arquivo Pietra Pensa

- Cultura de La Tène. O terceiro e último estágio da histórica celta, conhecido como cultura de La Tène, desenvolveu-se a partir da cultura de Hallstatt na França e na Alemanha por volta de 450 a.C. A cultura de La Tène é famosa pelo estilo artístico chamado curvilíneo, usado para decorar armas, joias e outros artefatos cuja superfície era gravada com curvas, espirais e círculos abstratos e simétricos. Por meio de comércio e migrações, a cultura de La Tène se espalhou pela Europa ocidental e central (além da Espanha) e chegou à Grã-Bretanha e à Irlanda por volta do ano 400 a.C. Na Espanha, formou-se a cultura “celtibérica” distinta.


Costume celta. Paolo Boncomagni.
 Arquivo Pietra Pensa

- Invasões. Por volta de 400 a.C., os celtas invadiram o norte da Itália e a região do baixo Danúbio. No norte da Itália, seus ataques enfraqueceram muito a civilização etrusca. Os celtas se estabeleceram no fértil vale do Pó, região que, a partir daí, passou a ser chamada de Gália Cisalpina (Gália sendo o nome romano da terra dos celtas). Depois, eles marcharam para o sul e sitiaram Roma até que os romanos pagaram um resgate para que fossem embora.

Os celtas do baixo Danúbio começaram a avançar para o sul e entraram nos Bálcãs e na Grécia no início do século III a.C. Atacaram Delfos e conquistaram o reino helenístico da Trácia. Daí, três tribos celtas migraram para leste e se instalaram no centro da Anatólia, de onde partiram invasões aos reinos vizinhos.


Costume celta. Paolo Boncomagni. 
Arquivo Pietra Pensa

- Declínio. O ponto alto da cultura celta ocorreu do início a meados do século III a.C. A partir daí, eles começaram a sofrer pressões dos romanos, gregos e cartagineses e passaram firmemente à defensiva.

Na década de 230, os cartagineses começaram o processo de expulsar da Espanha os celtibéricos, processo continuado pelos romanos depois de derrotarem os cartagineses em 206. Os celtibéricos se agüentaram no noroeste da Espanha até caírem sob o domínio romano em 19 a.C. Os gregos expulsaram os celtas da Anatólia central em 230 e da Trácia por volta de 220.

A partir de 225, Roma começou a atacar a Gália Cisalpina. Os celtas resistiram até 192, quando foi esmagada a sua última base em Bonomia (a moderna Bolonha). Entre 58 e 51 a.C., o general romano Júlio César venceu os celtas da Gália. Os celtas da Panônia (a Hungria moderna) foram derrotados em 9 a.C. Só restava, então, um pequeno enclave de celtas independentes na Europa continental, situado na Alemanha, ao norte do Danúbio.


Costume celta. Paolo Boncomagni. 
Arquivo Pietra Pensa

- Grã-Bretanha e Irlanda. Aos poucos, os celtas da Europa continental se romanizaram e sua identidade começou a desaparecer. No entanto, a cultura celta continuou a prosperar na Grã-Bretanha até a invasão romana, em 43 d.C. Embora dominassem boa parte da Grã-Bretanha, os romanos nunca conseguiram subjugar as extremidades norte e oeste – Cornalha, País de Gales e Escócia -, onde as tradições celtas sobreviveram e sua língua continuou a ser falada. Depois que o domínio romano terminou em 410, a arte La Tène reviveu na Grã-Bretanha, agora sob forte influência dos estilos artísticos anglo-saxão e romano tardio.

Os romanos nunca chegaram à Irlanda e os celtas irlandeses ficaram relativamente tranquilos durante o período romano. No século V, um cristão chamado Patrício levou um grupo de celtas à Irlanda e lá criou uma igreja, Em 600, a Irlanda era o centro cultural do cristianismo celta e mandava missionários para a Grã-Bretanha e Europa.


Costume celta. Paolo Boncomagni. 
Arquivo Pietra Pensa

- Sociedade. Os celtas eram um povo tribal e algumas tribos se organizavam em federações. As tribos eram governadas por um chefe com o apoio de uma elite guerreira e uma classe sacerdotal, os druidas. Os druidas realizavam os ritos religiosos, julgavam criminosos e aconselhavam o chefe. A maioria vivia em pequenos povoados cercados de terra agrícola. No século II a.C., os celtas passaram a construir povoados maiores e fortificados chamados oppida que serviam de centros comerciais e às vezes administrativos. Pareciam estar à beira de criar uma civilização complexa própria, com o desenvolvimento de grandes cidades, cunhagem de moedas e escrita, quando foram conquistados pelos romanos.

WOOLF, Alex. Uma Nova História do Mundo. São Paulo: M.Books do Brasil, 2014. p. 76-77.

NOTA: O texto "Os celtas" não representa, necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.

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