"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 22 de julho de 2014

O cotidiano do rei Luís XIV e o absolutismo

Luis XIV e sua família. Artista desconhecido

Os  pesquisadores que estudam os governos absolutistas da França conseguiram identificar vários gestos simbólicos criados por Luís XIV para mostrar seu poder de monarca absoluto. Entre eles destacam-se as regras de etiqueta criadas para orientar o comportamento dos membros da Corte.


Casamento de Luís XIV e Maria Teresa da Áustria na Igreja de St.-Jean-de-Luz, 9 de junho de 1660. Jacques Laumosnier

Essas regras transformavam cada ato do cotidiano do rei em cerimônia que deveria ser acompanhada por toda a Corte. Por meio desses rituais buscava-se destacar a pessoa do monarca como centro do poder e, como tal, objeto de culto e adoração.


Casamento do Duque de Borgonha, Luís da França (1682-1712). Antoine Dieu

O sono do rei Luís XIV geralmente era velado por um criado, que permanecia ao lado do monarca durante toda a noite e o acordava pela manhã. Em seguida, o médico particular do rei o examinava e avaliava as suas condições de saúde. Depois desse exame, o criado lhe colocava a peruca e permitia a entrada dos cortesãos que já estavam à espera no corredor.


Luís XIV (1638-1743). Hyacinthe Rigaud

Seguindo uma rígida hierarquia, diariamente os nobres de títulos mais importantes eram admitidos em primeiro lugar nos aposentos reais. Depois vinham os oficiais de quarto e de guarda-roupa, encarregados de organizar as vestimentas reais. Enquanto o rei se levantava da cama, eram recebidos os ministros e secretários de Estado.


Entrevista de Luis XIV da França e Filipe IV da Espanha na Ilha dos Faisões em 1659. Jacques Laumosnier

Dois dos nobres mais importantes o ajudavam a colocar as roupas, prender os sapatos e a espada. Em seguida, entravam nobres de menor importância, que realizavam outros tipos de tarefas. Por último, eram admitidos nos aposentos os filhos legítimos e bastardos do rei e o ministro das Finanças. Completado o cerimonial de vestir-se, o rei dirigia-se à capela do palácio para fazer as orações matinais e finalmente ia ao encontro do restante da Corte.


Luís XIV e a Dama Longuet de La Giraudière. Charles Beaubrun

Nas refeições do rei e de sua família, assistidas por toda a Corte, os rituais se repetiam. Uma grande quantidade de criados e de nobres ficava à disposição para servir os pratos e as bebidas.


Reparação feita à Luís XIV pelo doge de Gênova Francesco Maria Lercari Imperial, 15 de maio de 1685. Claude Guy Hallé

Se o rei queria beber, um dos nobres anunciava em voz alta a disposição do rei para beber, fazia uma reverência e ia ele mesmo apanhar as bebidas. Voltava na companhia de dois criados que carregavam as bandejas com os copos e garrafas de vinho ou água. Os criados provavam as bebidas e o nobre, fazendo nova reverência, oferecia a garrafa ao rei. Depois de nova reverência, o nobre devolvia a bandeja ao criado, que a levava embora. Esse cerimonial era cumprido toda vez que o rei queria comer ou beber qualquer coisa, fazendo de uma simples refeição um ritual complicado e demorado.


Madame de Maintenou como uma jovem mulher. Amante de Luís XIV. Artista desconhecido

Outras regras de comportamento definiam os poucos que mereciam sentar-se na presença do rei e os que deveriam permanecer em pé. Entre os que se sentavam também havia uma hierarquia, marcada pelo tipo de assento indicado para cada um - do simples banquinho até cadeiras maiores e mais confortáveis. Somente para alguns poucos representantes e governos estrangeiros o rei concedia o privilégio supremo de cumprimentar tirando o chapéu.


Retrato de Luís XIV da França. Artista desconhecido

A transformação da vida cotidiana do rei em espetáculo servia para seduzir os nobres, que se sentiam poderosos pela participação nessas cerimônias assistidas por todos. Além disso, as regras rígidas de etiqueta utilizadas nessas cerimônias reforçavam a hierarquia do poder na França absolutista, no centro da qual estava o rei.

DREGUER, Ricardo. TOLEDO, Eliete. Novo História: conceitos e procedimentos. São Paulo: Atual, 2009. p. 18-19.

NOTA: O texto "O cotidiano do rei Luís XIV e o absolutismo" não representa, necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.

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