"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 12 de novembro de 2013

As civilizações helenizantes 1: Etrúria

Os primeiros túmulos, ao lado de objetos fenícios, orientais e egípcios, cedem, na Etrúria, um amplo lugar aos produtos jônicos, e vêem-se aparecer, sucessivamente, vasos proto-coríntios, em seguida coríntios e por fim as hídrias de Cálcis, os vasos áticos com figuras negras e vermelhas. Instruídos por artistas gregos na Itália, os etruscos, conservando o seu bucchero nero, que procurava imitar o metal, fabricam vasos de estilo jônico, como as belas hídrias de Caere.

Mais originais na arquitetura, por seus grandes trabalhos de drenagem, pontes e estradas e por sua preferência pelo arco de volta inteira e pela abóboda (eles inventaram o fecho de abóboda e realizaram belas cúpulas abatidas sobre um plano quadrado, que os gregos e os orientais desconheciam), adotaram, porém, para seus templos, o plano largo e pouco profundo, o vigamento de madeira recoberto por terracotas vivamente coloridas dos jônicos, e, sobre o friso do templo de Velletri (século VI), misturavam-se elementos jônicos, coríntios e etruscos propriamente ditos.

A terracota, aliás, era muito empregada, a julgar pelos sarcófagos de Caere, nos quais os defuntos são representados meio estendidos sobre um leito de aparato, segundo uma concepção provavelmente oriental, e sobretudo pelo Apolo de Veios, obra-prima de terracota policrômica que lembra, com mais força e originalidade, o estilo das korai jônicas; fazia parte de um grupo executado provavelmente pelo célebre Vulca de Veios, autor de estátuas que ornavam o frontão do Capitólio em Roma.

É no trabalho do metal, sobretudo do bronze, que os etruscos realizaram suas mais belas obras: o Apolo de Piombino copia uma estátua grega arcaica; a loba do Capitólio e a quimera de Arezzo, mais recentes, unem a um estilo vigoroso e pessoal tradições orientalizantes; com as placas de metal estampado que ornavam os carros de guerra, os tripés e as bacias, exportados até a região do Reno, os espelhos gravados de Preneste, os vasos cinzelados, as joias de prata e de ouro filigranadas, os etruscos elevaram a um raro grau de perfeição uma indústria que se inspirou no Oriente.

Encontram-se igualmente elementos asiáticos e jônicos com reminiscências minóicas nas mais antigas pinturas dos túmulos, que lembram o estilo das tapeçarias do Oriente. O conjunto dos afrescos etruscos, representando quase sempre jogos e banquetes fúnebres, ou a chegada do morto aos Infernos, é de uma riqueza impressionante e de um valor documentário único, pois só eles podem dar-nos uma ideia da pintura grega antiga, que desapareceu por completo.

Pintura etrusca: Tumba dei Leopardi, Tarquínia, Itália

Pintura etrusca: Tumba Della Fustigatoni, Tarquínia, Itália

Sob a influência da expansão etrusca, por um lado, e do comércio grego, por outro, os cantões mais isolados da Itália despertam e civilizam-se: em Capestrano, nos Apeninos, encontrou-se em 1935 uma curiosa estátua de guerreiro, atarracada e musculosa; o armamento, as joias e uma inscrição parecem aparentá-la à Etrúria, mas atestam igualmente uma influência helênica. Na costa do Adriático, a região de Este conserva motivos de inspiração micênica estranhamente tardios; o Piceno recebe vasos, bronzes e joias orientais e depois adota o âmbar para ornamentar suas pesadas joias e suas fíbulas de metal no século VI; finalmente, ao contato com as artes villanoviana, etrusca e jônica, constitui um estilo pessoal, ilustrado pelos bronzes de Numana, estatuetas de animais e máscaras de âmbar.

GABRIEL-LEROUX, J. As primeiras civilizações do Mediterrâneo. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p. 110-112.

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