"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A domesticação do feijão e os primeiros vilarejos na América Central

O nascimento das civilizações é geralmente associado ao cereal que as simboliza: o trigo ao Médio Oriente e à Europa, o arroz à Ásia, o milho à América Central. Não se poderia negar a importância dessa planta alimentadora que, de acordo com múltiplas preparações, ocupa na cozinha um lugar comparável ao trigo na Europa: tortillas, tamales, pozoles, são alguns exemplos dessa riqueza culinária. Numerosos pesquisadores tentaram, com sucesso, determinar as modalidades da domesticação desse cereal. Mas as escavações demonstraram também a presença de outras plantas cultivadas, algumas das quais, como a abóbora, foram domesticadas em datas anteriores (8000 a.C. no vale de Oaxaca).

É graças às espécies complementares, como o pimentão, o abacate, o amaranto, o sapoti branco e preto (árvore frutífera) ou o tomate, que o milho pôde assegurar a base alimentar suficiente para a sedentarização. Além disso, a presença de certas árvores, como o abacateiro ou o sapotizeiro, que necessitam de grande quantidade de água, foi registrada em regiões áridas como o vale de Tehuacán, em épocas anteriores à domesticação do milho. Isso já implica práticas agrícolas elaboradas.

Os primórdios da agricultura na América Central. Desde os primórdios da agricultura, a trilogia alimentar da área mesoamericana - milho, feijão, abóbora - foi objeto de um cuidado particular por parte dos agricultores, e os milpas (campos) permitiam uma exploração simultânea das três plantas. Se as primeiras espigas de milho tinham originalmente alguns centímetros, em poucos séculos atingiram seu tamanho atual. Nesse lapso de tempo, múltiplas variedades de milho e de feijão são criadas pelas sociedades pré-hispânicas. Códice florentino.


Uma exploração organizada dos recursos marinhos, lacustres ou terrestres permite a pequenos grupos ocupar seu território de modo permanente. Outros processos de sedentarização, sem domesticação vegetal, foram também constatados em meios favoráveis, como a costa do Belize e a bacia lacustre do México, onde a sedentarização ocorre entre 5500 e 3500 a.C., bem antes do aparecimento da agricultura.

A passagem para o sedentarismo, com o aparecimento de vilarejos de cinco a dez casas, só é, com efeito, estabelecida por volta de 3000 a.C., em regiões como a bacia do México, o vale de Oaxaca ou a costa do Pacífico de Chiapas. Essa mudança ocorreu pouco depois das primeiras manifestações da domesticação do feijão, por volta de 3500 a.C. O feijão aparece realmente mais tarde, por volta de 2300 a.C., em Tehuacán e, por volta de 2000 a.C., em Oaxaca. A partir do momento em que a trilogia alimentar mesoamericana - milho, feijão, abóbora - está disponível, os homens têm recursos suficientes para se estabelecer. A presença abundante, em certos locais, de mós e almofarizes, objetos frequentemente pesados e difíceis de transportar, confirma o sedentarismo, e as primeiras cerâmicas aparecem, na costa de Guerrero ou em Tehuacán. Por volta de 2300 a.C., por fim, um esboço de estatueta feminina em Zohapilco marca o início da nova etapa de formação das sociedades aldeãs.

Os excedentes agrícolas obtidos pelos camponeses facilitam, com efeito, o desenvolvimento das outras atividades artesanais e permitem o surgimento, dentro de uma sociedade igualitária, de responsáveis religiosos que assumem um papel de dirigentes nas comunidades.

SALLES, Catherine (dir.). Larousse das civilizações antigas: dos faraós à fundação de Roma. São Paulo: Larousse, 2008. p. 17.

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