"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

domingo, 5 de agosto de 2012

Navegações chinesas no século XV


Pintura que mostra o lendário almirante chinês Zheng He ou Cheng-Ho (1371-1433)

A partir do Renascimento, o controle das rotas marítimas se torna paulatinamente uma obsessão das grandes potências europeias. O Ocidente empurra cada vez mais para leste suas frotas e suas ambições. Ao contrário, a navegação no sentido leste-oeste permanece pouco desenvolvida, como no caso da China.

A China se basta a si mesma e se contenta com uma navegação “via correio”. No entanto, os chineses inventaram a bússola e o leme, assim como barcos com até sete mastros e medindo cento e trinta metros de comprimento (a caravela de Cristóvão Colombo media apenas trinta metros). É com essas embarcações que os navegadores chineses entregam grandes carregamentos de suas famosas porcelanas azuis na Índia e no golfo Pérsico. No século XV, entre 1405 e 1433, sob a liderança do almirante Cheng-Ho, sete expedições são organizadas para o Oeste. Trata-se na verdade de uma espetacular demonstração de força e prestígio destinada a exibir estrepitosamente a deslumbrante civilização do “Império do Centro”. Em cada escala, os chineses cumulam seus anfitriões com presentes, mediante reconhecimento cúmplice da “abundância e da generosidade do reino central...”, mas também pagamento de um tributo destinado a marcar sua admiração pela China. Porém, o imperador Yung, que apostou nessas grandes expedições marítimas para estender a influência da China ao oceano Índico, é o único soberano da dinastia Ming a montar tais empreendimentos. Seus sucessores não o seguirão nesse caminho e se recolherão timidamente no interior de suas fronteiras, fechando a China durante séculos às influências externas. E é Portugal que vai agora tomar a iniciativa de escrever uma página grandiosa da legendária história das especiarias.

PELT, Jean-Marie. Especiarias & ervas aromáticas: história, botânica e culinária. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. p. 40-41.

Nenhum comentário:

Postar um comentário