"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Interpretações sobre as razões da 1ª Guerra Mundial

Tropas austríacas executando prisioneiros sérvios, 1917

As grandes transformações que seguem o período de guerra parecem revelar que os vencedores têm o poder de conduzir a história, por um bom tempo, segundo sua vontade. Isso sempre preocupou os cientistas, pois, embora parecesse irracional o morticínio humano deliberado, não se conheceu ainda nenhuma paz duradoura.

Os esforços representados pelos tratados de paz para impedir novas guerras sempre foram ineficientes e, pelo contrário, os descontentamentos com suas cláusulas geraram novas guerras. Da mesma maneira, tentou-se regulamentar o comportamento ético dos exércitos em luta, estabelecendo, em vão, normas para o tratamento de prisioneiros e da população civil ou proibindo o uso de determinadas armas. Esses acordos eram firmados em épocas de paz e logo desrespeitados quando estouravam as guerras. Tudo é permitido para se alcançar a vitória, assim pensam os combatentes.

Surgiram muitas teorias para explicar o fenômeno da guerra. Alguns pensadores do século XIX achavam que ela é o mais eficiente método de controle demográfico que existe. Quando a população cresce muito em relação aos bens produzidos por determinada sociedade, a miséria e a fome se aproximam ameaçadoramente. Nesses momentos, quando surge uma guerra e promove um número elevado de mortes, restabelece-se o número ideal de habitantes.

Militantes do movimento operário de várias tendências radicais condenavam a guerra por considerá-la, como o filósofo Karl Marx, uma atividade de interesse exclusivo dos grandes proprietários, dos poderosos comerciantes e dos industriais.

Com o desenvolvimento da Psicologia, os estudos sobre as razões do comportamento individual e coletivo multiplicam-se, propiciando algumas explicações sobre a guerra. A euforia que muitos combatentes apresentam no momento de sua partida para o front, isto é, o local onde se travam as batalhas, pode ser interpretada como um forte desejo de fugir à mediocridade do cotidiano. Isso porque na guerra são permitidos atos - como matar, roubar e destruir - que em circunstâncias normais são punidos pelas leis e porque os homens têm nela um momento único para extravasar sua agressividade, fruto de suas decepções com a vida. O grande pensador Sigmund Freud afirmava que o homem é conduzido por dois impulsos: o amor e a violência. Daí se concluir que a guerra era um considerável meio para que o homem realizasse seus desejos mais profundos.

Por intermédio da pesquisa dos documentos que encontravam, os historiadores procuraram explicar as causas e as consequências das diferentes guerras. Assim, tomaram conhecimento de planos de batalhas, declarações dos generais de exércitos, atitudes de chefes de Estado, negociações diplomáticas e mil e um detalhes. Eles buscavam compreender a guerra como se ela fosse um ato deliberado, uma escolha racional feita pelas grandes personagens históricas em momentos de crise. [...]

JANOTTI, Maria de Lourdes. A Primeira Guerra Mundial. São Paulo: Atual, 1992. p. 4-5.

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