"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Tempo histórico, tradição e mentalidade

"A persistência da memória", Salvador Dali

"O que é, então o tempo? Enquanto não me perguntam, eu sei; se me perguntam e quero explicar, não sei".
(Santo Agostinho, século V)

Os primeiros povos marcavam o tempo seguindo os ciclos naturais como a alternância entre o dia e a noite, as diferentes fases da lua, o movimento das águas (rios e mares), a posição dos astros e das estrelas no céu e a posição do sol. A observação contínua fez com que eles começassem a marcar as horas, os dias e as melhores épocas para a semeadura, a colheita e para as orações etc. Apesar das diferenças entre os diversos calendários do ocidente e do oriente, a maior parte dos povos considerou os ciclos dos astros para determinar e medir o tempo.

Ao longo da história, o ser humano encontrou diferentes maneiras de registrar e medir o tempo, dando origem aos calendários. Os calendários são convenções, ou seja, as sociedades em diferentes épocas utilizaram critérios próprios para marcar o tempo, o dia, o mês e o ano.

[...]

Os cristãos datam a história da humanidade de acordo com o nascimento de Cristo, ou seja, o ano de 2011 representa o número de anos que se passaram desde o nascimento de Jesus. No mundo ocidental, quando se estuda algum fato histórico, é comum utilizar as siglas a.C. e d.C., que significam respectivamente antes de Cristo e depois de Cristo.

Os árabes datam a história do seu povo a partir da Hégira, o marco da fuga do profeta Maomé, criador do islamismo, da cidade árabe de Meca para Medina [...], no ano de 622 d.C.

Já os judeus datam a história a partir da Criação descrita na Bíblia, que teria ocorrido numa data equivalente a 7 de outubro de 3760 a.C., ao pôr-do-sol. É por isso que, no calendário judaico, os dias começam ao anoitecer. [...]

[...]

A datação dos fatos da história humana permite ao historiador organizá-los em ordem cronológica. Muitos desses acontecimentos recebem uma atenção especial dos historiadores por entenderem que são marcos na história de um povo, ou seja, assinalam importantes mudanças na vida daquela sociedade. O tempo que transcorre entre um marco e outro, que sinalizam o fim ou o ciclo de um novo modo de vida, é chamado de período. Chamamos de era o tempo que é contado depois de algum marco considerado memorável. Por exemplo, no Ocidente vivemos na era cristã, que tem como marco fundamental o nascimento de Jesus Cristo.

[...]

[...] Porém, o tempo é muito mais do que as horas marcadas por um relógio, ou os dias de um calendário, ou os anos de um século; é também tradição, mentalidade e ritmo.

Na sociedade ocidental, por exemplo, há vários rituais como o Carnaval e a Páscoa (judaica e cristã), entre inúmeros outros, que são celebrados hoje em dia e têm centenas de anos de existência. A esses rituais damos o nome de tradição, ou seja, uma reminiscência do passado que chegou até nós pela transmissão cultural dos mais velhos, pelas crenças religiosas, pelos ideais de um grupo, entre outros. A tradição é a memória viva de um evento passado que, por sua importância na vida das pessoas, é perpetuado de geração em geração. É um costume, uma recordação que não pode ser esquecida.

Não só a tradição marca o tempo passado, as gerações também o marcam. Em qualquer sociedade, há uma gradação populacional que vai dos recém-nascidos aos mais velhos, formando as gerações. Cada geração possui a sua própria mentalidade, ou seja, o seu modo de ver e dar significado à vida. Por isso, numa sociedade, assim como em uma família, podemos ter um confronto entre mentalidades ou conflito de gerações. Da mesma forma, podemos ter sobrevivências, na nossa época, de hábitos e ritmos que pertencem a uma outra época e modo de vida, ou seja, em uma mesma época podem coexistir diferentes tempos históricos. Por exemplo, muitos dos pescadores jangadeiros do Nordeste do Brasil usam técnicas de pesca da época colonial e mantêm praticamente o mesmo ritmo e horários de trabalho daquele período, embora incorporados ao mercado capitalista.

MOTA, Myriam Becho; BRAICK, Patrícia Ramos. História: das cavernas ao terceiro milênio. São Paulo: Moderna, 2007. p.11-13.

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