"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Tenochtitlán: a cidade asteca

Tenochtitlán,  mural de Diego Rivera

O centro do império asteca era Tenochtitlán, uma cidade de canais, praças e mercados, pirâmides, templos, palácios, lojas e residências, que começou numa ilha no lago Texcoco e estendeu-se para as praias mais próximas com os quais se comunicava por estradas.

Na época da conquista espanhola, ela era uma orgulhosa metrópole de duzentos mil habitantes, tão soberba que o conquistador Bernal Diaz del Castillo registrou que mesmo "aqueles que estiveram em Roma ou Constantinopla dizem que em termos de conforto, regularidade e população nunca viram algo semelhante". O mesmo autor fornece uma descrição vívida na cidade tal como ela era em 1519.

"Nesta grande cidade... as casas se erguiam separadas separadas umas das outras, comunicando-se somente por pequenas pontes levadiças e por canoas, e eram construídas com tetos terraceados. Observamos, ademais, os templos e adoratórios das cidades adjacentes, construídos na forma de torres e fortalezas e outros nas estradas, todos caiados de branco e magnificamente brilhantes. O burburinho e o ruído do mercado... podia ser ouvido até quase uma légua de distância... Quando lá chegamos, ficamos atônitos com a multidão de pessoas e a ordem que prevalecia, assim como com a vasta quantidade de mercadoria... Cada espécie tinha seu lugar particular, que era distinguido por um sinal. Os artigos consistiam em ouro, prata, jóias, plumas, mantas, chocolate, peles curtidas ou não, sandálias e outras manufaturas de raízes e fibras de juta, grande número de escravos homens e mulheres, muitos dos quais estavam atados ao pescoço, com gargalheiras, a longos paus. O mercado de carne vendia aves domésticas, caça e cachorro. Vegetais, frutas, comida preparada, sal, pão, mel e massas doces, feitas de várias maneiras, eram também lá vendidas. Outros locais na praça eram reservados à venda de artigos de barro, mobiliário doméstico de madeira, tais como mesas e bancos, lenha, papel, canas recheadas com tabaco misturado com âmbar líquido, machados de cobre, instrumentos de trabalho e vasilhame de madeira profusamente pintado. Muitas mulheres vendiam peixe e pequenos "pães" feitos de uma determinada argila especial que eles achavam no lago e que se assemelham ao queijo. Os fabricantes de lâminas de pedra ocupavam-se em talhar seu duro material e os mercadores que negociavam em ouro possuíam o metal em grãos, tal como vinha das minas, em tubos transparentes, de forma que ele podia ser calculado, e o ouro valia tantas mantas, ou tantos xiquipils de cacau, de acordo com o tamanho dos tubos. Toda a praça estava cercada por "piazzas" sob as quais grandes quantidades de grãos eram estocadas e onde estavam, também, as lojas para as diferentes espécies de bens".

Os cronistas espanhóis registraram a hierarquização da sociedade asteca com o monarca semidivino no topo da hierarquia, seguido, em ordem decrescente, pelos nobres e altos sacerdotes, homens comuns, servos e escravos, sendo os últimos, prisioneiros de guerra. O mundo sobrenatural era estruturado de modo similar. No ápice, o deus da chuva, Tlaloc, compartilhava a supremacia com Huitzilpochtli, o deus da guerra, cujo templo e altar salpicado de sangue (no qual queimavam constantemente incenso e três corações humanos) horrorizaram os espanhóis católicos. Os livros de pele de cervo, ou códices, registravam as proezas dos heróis da história asteca, os detalhes dos rituais, o elaborado calendário cerimonial e outros tipos de informação, numa combinação de pinturas e símbolos.

MEGGERS, Betty. América pré-histórica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972. p. 96-97.

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