"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

domingo, 4 de setembro de 2011

Internacionais socialistas

A Internacional, Otto Griebel 

"À opressão não mais sujeitos!
Somos iguais todos os seres,
Não mais deveres sem direitos,
Não mais direitos sem deveres.
Sem leis e sem amos, virá e surgirá!
Que a liberdade na vida nos una,
Se tudo é de todos, escravos não há!
Sem leis, sem amos, sem pátria, sem deus
Rejubilando os corações plebeus
Levando aos povos terra e liberdade.
Não mais soldados, nem trincheiras.
Somos irmãos em nós unidos!"
(Canção anarquista)

Em foto do início do século XX vê-se a militante Rosa Luxemburgo discursando em uma reunião política na Alemanha

O Socialismo, no século XIX, manifestou-se não apenas no campo teórico. A prática espelhou-se também na realização de congressos operários, especialmente aqueles conhecidos como "Internacionais". A I Internacional ou o primeiro congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) reuniu-se em Londres, entre 1864 e 1876.

A I Internacional foi marcada pela pouca representatividade dos grupos operários e pelas divergências entre os anarquistas (Bakunin) e os comunistas (Marx). Enquanto Marx afirmava a necessidade de um período de "ditadura do proletariado" para se chegar ao comunismo, os anarquistas argumentavam que todo Estado é opressor, acreditando que se poderia passar diretamente do capitalismo ao comunismo.

Durante a realização da I Internacional, foi instalada a Comuna de Paris, após a derrota dos exércitos franceses na Guerra Franco-Prussiana de 1870. A subserviência do novo governo francês (Terceira República), controlado pela burguesia, diante das exigências prussianas, levou à mobilização popular e à instalação de um governo proletário na capital do país.

Na Comuna, tentou-se implementar uma ampla democracia (funcionários eleitos por sufrágio universal; revogabilidade dos cargos e mandatos a qualquer momento; fim do exército e criação de milícias populares; determinação de que o salário dos representantes não poderia ser maior do que o de um operário qualificado, por exemplo), mas a oposição dos setores burgueses e conservadores levou a uma violenta repressão.

Cartaz da Comuna de Paris

A partir de então, os participantes da I Internacional passaram a ser duramente perseguidos devido à aplicação dos princípios socialistas, mesmo que numa experiência restrita a uma cidade e de curta duração (de março a maio de 1871).

Em 1872, os anarquistas foram expulsos da I Internacional, cujo conselho foi transferido para Nova York, onde se decidiu pelo seu fechamento, em 1876.

Já a II Internacional se reuniu em 1891. No intervalo entre as duas Internacionais, seguidores de Marx na Alemanha, como Bebel e Karl Liebknecht, reunidos em 1875, no Congresso de Gotcha, deram origem à Social-Democracia, negando determinados pontos básicos do pensamento de Marx, como a necessidade da revolução do proletariado, e dele recebendo duras críticas. Mas o Partido Social-Democrata, apesar das resistências, inclusive do governo alemão, cresceu, transformando-se mesmo, com o tempo, no maior partido político do país.

Durante a II Internacional, as maiores divergências foram entre os marxistas e social-democratas. Estes se dividiam em três correntes:

* o grupo revisionista, de Bernstein, que discordava da maior parte das ideias marxistas.
* o grupo moderado, liderado por Karl Kautsky, que discordava essencialmente dos revisionistas, defendendo Marx e Engels.
* o grupo radical ou marxista-revolucionário, liderado pelo teórico e revolucionário russo, Lênin, e pela teórica e militante de esquerda alemã, Rosa Luxemburgo, que advogava uma renovação dentro do próprio marxismo, mas de caráter revolucionário.

O fim da II Internacional, em 1914, está diretamente relacionado à postura dos vários partidos social-democratas em relação à eclosão da Primeira Guerra Mundial. Apesar de suas lideranças terem denunciado, desde o início do século XX, que os conflitos interimperialistas fatalmente levariam a uma grande guerra, quando esta de fato foi deflagrada (agosto de 1914), acabaram apoiando incondicionalmente o "esforço de guerra" de seus respectivos países, autorizando os pedidos de créditos feitos pelos governos envolvidos, esquecendo-se, portanto, da solidariedade e do internacionalismo que deveriam nortear o movimento operário. O Nacionalismo falou mais alto que o Socialismo.

O oportunismo social-democrata foi denunciado por Rosa Luxemburgo (1871-1919), membro do Partido Social-Democrata Alemão. Esta, por divergir das orientações que se tornaram dominantes em seu partido, dele se afastou e, mais tarde, juntamente com outras lideranças como Karl Liebknecht, ajudou a fundar o Partido Comunista Alemão, que, em janeiro de 1919, durante a chamada "Semana Vermelha" de Berlim, tentou tomar o poder. (BERUTTI, Flávio. Caminhos do Homem. Curitiba: Base, 2010. p. 129-131.)

A Terceira Internacional, Ivan Ivanovich Golikov

"Durante quatro décadas, não temos cessado de colher 'vitórias' parlamentares na Alemanha. Voávamos literalmente de vitória em vitória. Mas na grande encruzilhada histórica de 4 de agosto de 1914 (início da Primeira Guerra Mundial), o resultado foi uma tremenda derrota moral e política, um afundamento inaudito, uma bancarrota sem precedentes. Paradoxalmente, até agora as revoluções somente nos têm trazido derrotas, mas esses fracassos inevitáveis são precisamente a garantia irreversível da vitória final". (LUXEMBURGO, Rosa. A Ordem Reina em Berlim. In: VARES, Luiz Pila (Org.). Rosa, a vermelha. Textos Escolhidos. São Paulo: Busca Vida, 1988. p. 237.)

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